Sem mas.

Sem mas.

17 de dezembro de 2013

Prioridades

                Se você quer seguir com isso, de ganhar prêmios, vá em frente. Sério. Mas a noite, quando deitar em sua cama, ao lado da sua esposa troféu, encarando seus certificados e medalhas, tenta usá-los pra preencher seu vazio.
                Parece fácil fazer o certo por linhas tortas. Brincar de Deus, até ser tratado como tal. Cure o câncer para satisfazer seu próprio ego. Seja amado pela obra, desenvolvida exclusivamente para isso. A competição é o natural de criaturas selvagens, siga em frente e boa sorte com a sua existência biológica.
                Vai!
                Tente construir pontes de papel, veja se são sólidas. Eu tenho uma facilidade imensa em aumentar abismos. Num piscar de olhos, precipícios enormes se formam ao meu redor. Basta observar a extensa lista de velhos desconhecidos, ela abrange parentes de primeiro grau até amigos de infância, nem professores são perdoados.
                Laços destruídos.
                Hei... Este sou eu, não é mesmo? Só mais um fracassado. Com você é diferente. O Nobel vai mudar sua vida. Você vai ser o herói. As pessoas vão te amar por isso.
                 Sabe... Isso não funcionou nem mesmo com Deus. Ah!... Mas é só Deus... Com você vai ser diferente.
                Para quê preservar laços, agir como humano, se você pode competir?
                Ninguém liga para quantos porteiros você maltratou ou quantos corações quebrou. Olha só, achou a cura para epilepsia. Um santo. Você se lembra, porém, daquela garçonete, naquela noite fria, do bar que estava fechando, e você, com seus amigos da mesma laia, chegaram bêbados, dizendo obscenidades a ponto de fazerem a garota, que só estava trabalhando, chorar? Pois então...
                Enquanto você segue competindo, eu vou por outro caminho.
                Estou aqui tentando ser humano, para variar. Essa coisas de ser uma besta, manter uma existência biológica é muito neandertal para o meu gosto.

                Mas vai lá... Se preocupe com o Nobel e seus outros prêmios, enquanto isso eu vou juntar os cacos das pessoas que eu ajudei a destruir, é que eu tenho tentado não fazer um estrago maior. 

12 de dezembro de 2013

Obrigado, mestres.

                Não sou assim tão velho. Estou no auge dos meus vinte e dois anos e por mim tudo bem. Vivi algumas coisas, na verdade eu peguei a decadência dessas coisas. Eu vivi para ver o final do Nirvana, o grunge praticamente cair no esquecimento.
                Me lembro que bandas surgiam quando pessoas tinham algo a dizer e se juntavam para falar sobre isso enquanto tocavam.
                Eu mesmo tentei fazer parte de algumas, mesmo sabendo tocar apenas dois riffs e quatro acordes. Isso nunca impediu os Ramones. Acho que posso dizer que na minha época, não era necessário aprovação de alguém sentado em uma cadeira.
                Era preciso ter alma e força de vontade. Pelo menos é o que parecia. Para ser mais claro, eu falo de programas como the voice. Presenciei acensão de coisas assim. Bandas tipo Broz, Rouge, cantores de programas como Fama.
                Nunca progrediram.
                Falta algo. Alguém que se rebaixa a esse tipo de coisa, tem sérios problemas com prioridade. Me parece que querem ficar famosos, ser reconhecidos, ter estabilidade e não há ali alma, verdade. Não me admira mesmo que tenham caído no esquecimento assim, tão rápido.
                O mesmo serve para o meio acadêmico.
                Lembro de conviver com a minha mãe, recém entrada na universidade, e seus amigos. A empolgação em produzir conhecimento, como os professores pesquisavam e buscavam fazer e progredir suas pesquisas. A paixão para além da aula. O amor a algo que não fosse o contracheque no fim do mês e a segurança de um cargo público.
                Caminhamos em passos largos rumo a mediocridade.
                Vejo a minha geração e alguns, um pouco, mais velhos que eu procurando essa estabilidade a todo custo. Mesmo que isso afunde o único lugar que deveria incentivar o crescimento intelectual. Pessoas que querem regurgitar teorias criadas por mortos.
                Claro que devemos respeitar o que já foi feito.
                Porém, enfrentar e refutar é mais do que nossa obrigação. Que tipo de pessoas são essas que buscam títulos ao invés de um crescimento? Reforçar o que alguém já fez e receber um papel que te faça pensar ser um mestre. Besteira. Eu cresci vendo mestres, eles eram pessoas que faziam, buscavam o desenvolvimento, erravam, recomeçavam, saíam a todo o tempo da zona de conforto, exploravam, conquistavam o título de mestre. Não eram um qualquer que busca, com isso, acarinhar e alimentar o ego.
                Ser mestre hoje é tão banal que não sou capaz de respeitar, nem, os meus professores.
                Inclusive, gostaria de agradecê-los por me ensinarem o verdadeiro significado das palavras autodidata e autonomia.
                Vejo seus discípulos e sinto pena das gerações que estão prestes a entrar neste meio. O problema de estar sempre em um pequeno nicho, é que nos alienamos, esquecemos de olhar o mundo. Quando volto a vida real, percebo que ele caminha em pé de igualdade com tudo que acabei de dizer a respeito da faculdade.

                Infelizmente, hoje, somos uma sociedade de bundas moles e há cada vez menos pessoas em quem se inspirar.  

9 de dezembro de 2013

Noites vermelhas

                Eu era o garoto novo na cidade quando a conheci, queria poder dizer que tinha olhos de águia, ou um olhar de peixe morto, mas eu era o cara dos olhos de ressaca. Não do tipo romântico, capituzado, mais para: Tenho bebido tudo por três noites seguidas.
                Ela se mantinha distante.
                Cabelos negros, olhar blasé. Nos encontrávamos algumas vezes durante os anos, notávamos nossas respectivas mudanças e não nos aproximávamos. Não era hora. As coisas precisam de hora e lugar. Não se pode forçar. Meu avô, quando ainda era saudável, vivia me dizendo: Olha, moleque, tem poucas regras que acredito e sigo na vida, uma delas é: Se não encaixa, não força.
                Não nos encaixávamos.
                Ainda não estava na hora. É preciso mudar, crescer, entender toda nossa mediocridade ou potencial e lidar com isso. Ambos lidamos. E num dia desses, em um encontro casual, não foi preciso dar uma explicação. Simplesmente nos entendemos.
                Meu olhar não é mais de ressaca, o dela diz mais do que as palavras, que as vezes, saem da boca.
                Não gosto de aglomerados de gente no meu apartamento. Me sinto invadido, desrespeitado. Não dou festas e sempre evito trazer mais do que duas pessoas. Sempre foi assim, mesmo em períodos mais sombrios.
                Porém, naquela noite em questão, por aquele pedido feito pelos olhos, abri mais do que uma exceção. Foi um apelo tão discreto, tão simples e desesperador. Os olhos diziam: “Me salva?” a boca dizia: “Vamos para onde?”
                Quebrei todas as minhas regras por ela. Por aqueles olhos e os cabelos, que agora se avermelhavam, como as nuvens.
                Não sei do futuro. Não sei do nosso futuro, talvez continuemos a nos encontrar e nos aproximemos mais. Pode ser que ela suma novamente e a gente mude tanto que não seja mais possível nos encaixar. Por enquanto a cabeça dela cabe exatamente no meu ombro e os olhos conversam entre si.

                 

8 de dezembro de 2013

Sem pressa

                Dessa vez eu participei do amigo oculto. É estranho porque sempre disse que não gosto disso, ano passado, inclusive, eu não entrei na brincadeira. Não sou um tipo de pessoa que se sente bem presenteando qualquer um, até porque escolher o presente de alguém desconhecido nunca vai fazer sentido na minha cabeça.
                Eu gosto de fazer meus próprios presentes.
                Me faltam habilidades motoras, talvez se eu tivesse engatinhado mais, levado o malabares mais a sério, hoje eu seria um bom artista plástico e os presentes sairiam aceitáveis. Apesar disso, de vez em quando saem bons, aí eu os entrego.
                Teve uma época que resolvi aceitar a sinergia cármica. Para quem não sabe, “sinergia” é definido como  efeito ativo e retroativo do trabalho ou esforço coordenado de vários subsistemas na realização de uma tarefa. Já o “carma” tem vários significados, mas para o que preciso vamos colocar como uma força que rege o universo. Então a sinergia cármica seria o mesmo que deixar o universo reger. As coisas se ajeitam.
                Se você não concorda, tem todo o direito do mundo.
                A questão é que quando parei de tentar moldar situações, estive em harmonia. Vivia realmente bem. Porém, de uns tempos para cá, quanto mais tentava manipular o mundo para a minha vontade, menos ela acontecia, quanto mais eu tentava ter a razão, menos eu conseguia e quanto mais eu tentava me aproximar, mais eu me afastava.
                Não é fácil aceitar a sinergia cármica, de início não é prazeroso, ou talvez até seja para você. Há coisas que simplesmente não entendo.
                O amigo oculto aconteceu, acabei saindo com alguém que considero muito. Não foi tão difícil comprar seu presente. As pessoas ficaram surpresas em me ver participando da confraternização. As mais próximas arriscaram piadinhas a respeito. Quando me indagavam porque realmente não participei das festas ano passado, onde estava e o quê fazia, eu só consegui responder:
                “Pois é... Não deu. Eu tava me apaixonando pela minha ex no dia.”


                Achei mais seguro estar presente nestes eventos, esse ano. 

1 de dezembro de 2013

Fica um pouco mais

        Tem chovido por dias, não é constante. As vezes para, tem hora que sobra um chuvisqueiro fino, uma garoa leve nos lembrando que não há sol. O sol não surge há um tempo.
                Numa tarde dessas de chuva eu saí de casa, havia combinado de encontrar alguém para fazer algo, essa informação, por algum motivo, está um pouco vaga agora. Sei que cheguei mais cedo, como sempre, sentei no banco daquela avenida bem arborizada. Eu gosto desses raros momentos de chuvisqueiro, momentos só.
                Um senhor sentou ao meu lado.
                Carregava uma espécie de estandarte de artesanato nos ombros caídos. Mesmo com todos os bancos, de toda a avenida, vazios ele escolheu o único que tinha alguém. Conversou algumas coisas, confesso que não dei atenção de imediato, não era ele quem eu esperava. Falava incessante sobre suas viagens, seu leite sem lactose, sua comida microbiótica. Minha cabeça ia longe, meus olhos meio cegos fixados no nada, a perna trepidava.
                Contou histórias sobre o Czar e dizia coisas que, para mim, pareciam sem sentido.
“Você parece inquieto...”
                Juro que sorri, sem mostrar os dentes, e não respondi.
“Parece aflito”
                Que tipo de pessoa usa a palavra aflito? Eu não estava aflito. Parei de sorrir.
“O primeiro passo para se ganhar qualquer coisa na vida é pedir. A gente ganha até o perdão assim. Acho que daqui a pouco o sol sai.”

                Acabou de dizer isso, se fechou em um sorriso sereno. Disse até mais, se levantou reclamando das pernas e as dores que não passavam, seguiu seu caminho. O chuvisqueiro já não caía e eu acho que pela primeira vez entendi o significado metafórico de “Here comes the sun”.

27 de novembro de 2013

Linha reta

                É mais uma que eu deixo ir. É como se houvesse uma estrada e eu insistisse em andar em círculos. Num looping infinito. Negando todos os caminhos que me aparecem. Todas elas são tão mais promissoras que você.
                Eu não quero que isso seja uma carta. Então não será. De agora em diante eu não vou me referir a você com o pronome “você”. Você será alguma outra garota. Mesmo que quando - você - volte a conversar comigo, do nada, eu não consiga me manter com as outras.
                Não desta vez.
                Isto não será uma carta.
                Eu estive procurando o som e a bebida ideal para escrever o que tem se passado aqui, dentro de mim, só que está tão difícil, são tantas coisas, tantas perguntas não formuladas, tantas respostas que não estou preparado para ouvir. Minha mente se acalmou um pouco com Camelo. Engraçado pensar que o disco dele traz o “nós” de cabeça para baixo, como se fosse um “sou” e que eu realmente quis conhece-la, me liguei ao som que ela ouve como se fosse um pedaço de mim, ainda por ser descoberto. Juro que não era fã de The killers.
                Eu tenho me encarado, horas a fio, no espelho e não ando gostando nada do que vejo. Estou em mudança, há meses, desde que ela me deixou, nesta peregrinação em busca do que eu tinha descoberto ao lado dela.
                Por alguns instantes achei que estava conseguindo. Descobri que me dou muito bem com ela bem longe ou muito perto. Esse meio termo está me matando. As dores, de anos atrás, voltaram com tudo. Mal saio de casa. Mal saio de mim. Revivo durante todo o dia, pelo menos quinze vezes, toda nossa história. De volta a estrada, a primeira saída que pego me leva ao ponto de partida, em lugar algum, e a segunda também.
                Eu que sempre pensei não ter nascido para monogamia me vejo querendo apenas uma, de novo. Me encontrei com a outra em frente a rodoviária, em um dos raros momentos que tenho saído de casa. Ela estava linda, como sempre, mesmo que eu não tenha dito. Ela sabe, o mundo não a deixa esquecer. Ao me ver, depois de tentar disfarçar o espanto, disse: Caramba! Por alguns minutos te confundi com estes pedintes.
                É, acho que a aparência de um viciado em crack cai bem em mim.

                Continuo procurando o som, a bebida e mais tarde alguém ao meu lado na cama. Já vai para um ano. No final das contas eu sou, mesmo, esse cara sentimental. 

24 de novembro de 2013

Sendo sincero

                Levando em consideração a santa inquisição, acredito que suas longas pernas seriam consideradas bruxaria. Conseguiam me enrijecer tão fácil. Se não fossem os domingos chuvosos e as outras mulheres, juro que desejaria que não fosse queimada.
                Ela vinha e o inferno a seguia.
                Como uma bruxa foragida das profundezas do limbo. Me olhava como um animal, uma fêmea em seu cio incontrolável, acompanhava a rigidez fálica imóvel. Me via como o fogo. Na verdade, não faço ideia de como ela me via.
                Entrava no meu, pequeno, apartamento e trazia todas as angústias e frustrações de amores mornos, mal havia espaço para nós dois. Senti, diversas vezes, como se tivesse listras em meu peito e ela fosse minha prisão. Não nego que o feitiço das pernas se quebrava fácil, porém, há sempre os seios, as costas, nuca, boca. Se não fossem os sorrisos e o cheiro das novas velhas conhecidas, é certo que até ajudaria a pensar em algo que a protegesse da fogueira.  

                Me punindo seguíamos, os dois, rumo ao calor. Tendo visto que a vaidade é a mãe de todos os pecados, nos queimávamos como marginais. Eu tenho pensado em me livrar deste contrato, mas é tão mais simples quando sua alma pertence ao Diabo e não as mulheres.  

17 de novembro de 2013

Sinestésico

Sinestesia do grego συναισθησία, συν- (syn-) "união" ou "junção" e -αισθησία (-esthesia) "sensação") é a relação de planos sensoriais diferentes: Por exemplo, o gosto com o cheiro, ou a visão com o tato. O termo é usado para descrever uma figura de linguagem e uma série de fenômenos provocados por uma condição neurológica.

Por exemplo: quando sua ex vem conversar sobre aquela série legal, que você nunca mais conseguiu ver, e na sua cabeça volta a cena de vocês dois deitados, dividindo aquele sofá de três lugares, numa terça entediante, esperando a pizza de quatro queijos que aquela página do facebook, a que você excluiu porque trazia recordações, tinha colocado em promoção. Junto com isso vem o cheiro do cabelo, que tinha sido lavado na segunda, é que era outono e estava ficando frio, e o cheiro da pele dela. A memória te traz a sensação de tocar aquele espaço entre os seios. Dá pra lembrar exatamente como era. No ouvido o gemido melódico, quase como uma música, aquele blues antigo, a capela. Na boca o gosto do beijo, do sexo despretensioso que aconteceu bem quietinho pra não chamar atenção de ninguém naquele apartamento vazio. Automaticamente você se lembra do gosto que ela tinha de manhã, antes de escovar os dentes, mas não só o gosto da boca, claro. Aí você sente, nos cabelos, os dedos finos, que ela tem, te fazendo cafuné, foram raros os momentos de carinho vindos dali. No seu campo de visão não há nada além daqueles olhos, um sorriso tímido e o cabelo bagunçado, sua camisa do Ramones e a cama desarrumada, o sol entrando de leve com uma brisa fria pela janela do terceiro andar.

Por fim você fica parado, com um sorriso bobo na boca, deixando vir lembranças que nem imaginava ter. É provável que seja a primeira vez que pensa nas coisas boas.  

13 de novembro de 2013

Você não está só, meu caro.

                Olha, cara, juro que não sou de escrever aos amigos assim. Você é próximo, poderia falar tudo isto diretamente a você, mas não vai ser isso que vou fazer dessa vez.
                “O que não nos mata, nos fortalece”. Besteira! A maior baboseira que repetem de peito inchado. O que não nos mata nunca nos fortaleceu, apenas nos deixa puto, irritado. O ódio cresce naturalmente, sem adubo, no peito dos homens, imagina se canalizado. É como uma erva daninha que se enraíza nas nossas entranhas, envenena nossos órgãos e mata, aos poucos, tudo aquilo que um dia queríamos ser. O pior é que o filho da mãe traz outras merdas junto.
                O ódio nos transforma naquilo que desprezávamos enquanto crianças.
                Se eu ainda bebesse te convidaria para uma cerveja, sentaríamos no chico às duas da tarde de uma sexta pacata, olharíamos as pernas de louça das moças que passam e não podemos tocar, falaríamos asneiras porque isso nos fortalece. Amigos, família, bons momentos. Isso nos faz mais fortes, dá sentido a esse mundo caótico.
                Eu sei que mulheres podem ser cruéis  Acredite em mim, eu sei bem. É difícil discernir o que sentimos sem um certo grau de consciência. A cólera nos cega. É como um maldito efeito dominó, sentimos a base sair e aí cai a saúde, conta bancária, noites de sono, surgem calafrios sempre que lembramos delas com outros. Eu já estive aí.
                Nos punimos. É inevitável. Brigamos, bebemos, fodemos. Passamos dias sem um banho digno, semanas sem uma refeição decente. Tentamos fugir, lutar. Tentamos tudo. Juro que se não cuidar isso pode nos matar.
                Eu estou usando a primeira pessoa do plural para que você perceba que não está só. Você não é o primeiro cara que passa por isso e não será o ultimo, estamos aqui. Amigos servem para isso. Não vou dizer que há outros peixes no mar, isso seria jogar fora toda a importância que ela teve/tem para você. É mesquinho e não são esses sentimentos que busco com estas palavras.
                Ninguém, além de você, pode pegar seus destroços e colocá-los juntos. O quanto antes você perceber isso, mais rápido saíra desse ciclo. Encerrar ciclos é importante.
                Sei que em alguns pedaços, certas coisas, soaram ridículas, mas foda-se. As vezes é necessário abraçar o ridículo.
                Abraços, cola aqui qualquer hora para um jam. Comprei uma gaita nova.  

   

10 de novembro de 2013

Estou bem

                Não tenho bebido e nem fumado. Não ando vendo motivos para isso. Mas que droga de escritor é esse que não bebe e não fuma? Sobre que merdas escreverei então? Que tipo de vida é essa que tenho levado? Falar sobre amor se tornou algo tão banal.
                Em minha defesa, digo que foram poucas as vezes que trepei tanto quanto agora. Pode parecer compensação, de um ponto de vista mais freudiano podem afirmar, inclusive, que é uma maneira de sublimar ou compensar.
                Bom... Eu tenho chamado de viver.
                Liguem para seus médicos favoritos e peçam uma lobotomia. Chequem o meu cérebro. Tenho andado sóbrio há meses, juro. Façam os testes. Digam quando foi a ultima vez que me viram bêbado, jurando amores ou seguindo só.
                Não acho que sou melhor do que todos por isso, nem do que a maioria. Na verdade tenho me sentido mais escória do que antes. É esse frio que não faz parte da primavera, ele vem quebrando meus joelhos sem piedade. Tira tudo que eu quero.
                Me rouba, sem pestanejar, as pernas de louça das moças que passam pela avenida. As pobres pecadoras que se redimem, todos os dias, com seus vestidos leves, os seios convidativos e os sorrisos fáceis.
                Já me disseram: quem te tira o sorriso fácil, arranca o coração fácil.
                Não há mentira maior. Talvez até tenha, mas pensar nisso agora me deprime. Antes a cerveja me alegrava, era motivo de festa, reunião. Comemoração. O uísque seguia como um fiel escudeiro, apoiava aulas mal elaboradas por acadêmicos incompetentes. A vodka sempre foi uma maneira de suportar a medíocridade alheia.
                Estar sóbrio consome muita energia.
                Tenho comido pouco, pensado muito. Pensar nunca é bom. Ignorância é uma virtude, acompanhada da felicidade. Ela pertence aos ignorantes assim como a melancolia pertence aos desafortunados.
                Não há recompensa, a redenção não existe.

                O mundo é um lugar frio e cruel, até mesmo na primavera e olha que, ultimamente, eu tenho passado bastante tempo ao sol.  

3 de novembro de 2013

Rumo a tragédia

                Tenho pensado bastante no inatismo. Irônico. Acreditava veemente que certas coisas não poderiam ser modificadas. Morreria, de fato, até antes dos trinta e o gene determinaria boa parte da minha conduta.
                Por sorte eu vivi.
                Conheci pessoas que me fizeram repensar. Esta garota era uma delas. Cabelos pretos, pele queimada, um jeito bacana. Do tipo de gente que te faz querer entrar em colapso, se não for bem interpretada. Uma pena nos encontrar-mos esporadicamente, apenas, e de maneira tão furtiva. Mal sabe ela o bem que me fez.
                Com ela insisto um contato. Creio que beiro o limiar da chatice  isso se não o ultrapasso constantemente. Não foi sempre assim, de volta a 2010, ela conseguia ser insuportável. Insuportavelmente linda, mas tremendamente irritante.
                Hoje mal vejo a garota que nos apresentou. Essa terceira foi, durante alguns meses, uma boa interação sexual sem compromisso. Esse tipo de relação irritava a musa. Ainda bem que o tempo passa.

                Por sorte vivi. Duvido que, sem ela, eu descobriria um outro jeito de morrer. 

27 de outubro de 2013

Não é sobre amor.

                Não vou negar, a nuvem de mosquitos me fez pensar em um mundo cruel. Era para ser uma mijada simples e rápida. Olhei para o lado, rumo ao lixo, e lá estavam elas. Brigavam ou brincavam, não domino sobre os hábitos de mosquitos sugadores, só sei que na minha terra são chamados de muriçoca e tendem a aparecer quando está quente. Lá está sempre quente.
                Até que ponto se conhece algo?
                Saber o nome não te qualifica como conhecedor, conhecer a fama de algo não te torna um especialista. Eu poderia ter um dossiê sobre essas malditas e ainda não ter dado a elas um nome.
                Passei mais do que deveria olhando como voavam, de alguma maneira me lembrou pessoas de um passado recente. Era uma garota tão doce e um mundo tão cruel. Os cabelos avermelhados, as bochechas coradas de vergonha. Os diálogos breves.
                Tão doce que me aquecia o peito. É claro que eu continuaria a pensar nela nas semanas seguintes, esse tipo de inocência me toca. Encontrei velhos amigos ao voltar para casa. Sempre gostei de pensar que casa é onde o coração está. Sei que soa brega, parece que tirei de uma música country barata. É só que quando o coração bate tranquilo acredito que se pode descansar. Exatamente como se faz no lar.
                Meu coração pode ter sido dividido. Não é possível que bata tranquilamente em tantos lugares assim. Há algo errado. Me emocionaram como em anos não acontecia, os velhos conhecidos. Aquele tipo de afeto me comove. É como se fossemos próximos, mesmo não sendo.
                Os dias seguiram seu curso, me trouxeram ao hoje. Até as muriçocas e o lixo. Ah! Ela era uma garota tão doce. Outras vieram. Sempre haverá outras, bebidas, conhecidos. Aquele tipo de honestidade e afeto são raros, não dá pra negar. Realmente me comoveu.


                Por fim balancei como de costume, guardei e fechei a bermuda rasgada. Cocei a barriga, peguei o celular e assumo, pensei em ligar. Acabei discando o número de outra. É que são tantas garotas doces em um mundo tão cruel que não dá pra saber de onde vem o medo de perder.   

24 de outubro de 2013

ATENÇÃO! Isto não é um poema.

                Primeiro me disseram:
                “Olha, isso é um poema.
                Vê as redondilhas e as rimas?
                Percebe a métrica e o sentido?
                Falam de um vaso chinês com tanta substância.

                Não se preocupe com isto.
                Crônicas e contos se confundem
                Você não precisa saber o quê é qual.
                Tudo bem.
                Mas olhe este poema.
                Veja.
                Sinta este dodecassílabo.
                Absorva o soneto”.

                Eu tenho sua infelicidade.
                Se seu objetivo é estimular
                Pegou o cara errado.
                Antes, era apático a poemas.
                Hoje os repulso tanto quanto poetas.

                Se há algo pior que poemas
                São os poetas.

                Exceto meu vizinho.
                Porém, há sempre a exceção que valida a regra.



                

21 de outubro de 2013

Em total solidão

                Talvez seja o nome ou a data que ela me deixou, se bem que não posso ser egoísta assim. Ela deixou a todos. Achei o poema que me escreveu de aniversário. Estava numa pequena mala, ao lado de um perfume barato e uma calcinha da ex de São Paulo.
                Essa ex gostava de me comparar ao Wando, talvez seja o físico, pode ser, também, por conta das frases bregas e sentimentos idealizados. Ela dizia: Olha... Você é um romântico, um tipo raro hoje em dia. Jovem de alma velha.
                Talvez ela estivesse certa.
                Voltando ao nome... Não posso colocar isso na mesa logo de cara, porque o nome foi a última coisa que lembrei. O Sorriso cativante somados ao poema encontrado, essa semana, e o aniversário de despedida da outra me amoleceram.
                É melhor, mesmo, parar de beber.
                Porém, o cheiro é gostoso e o cabelo bagunçado dá um charme maior pros olhos. E por falar em saudade, será que ela, agora, bebe champanhe no paraíso ou uísque em copo de extrato de tomate no inferno? Espero que a segunda opção.
                Aqui estou, sendo egoísta, de novo.
                Mas ela tem um tipo de inocência tão próprio, daquelas que desperta uma vontade íncrivel de corromper, só que eu tratei bem. Sério. Fui um cara legal, como deveria ter sido com a outra. Levei pra comer e insisti, saí com ela em público, até tentei arriscar uns passos de samba. Jeová sabe que sou péssimo dançarino.
                Tentar se redimir é um saco.
                Não que não tenha valido a pena, cada segundo ao lado dela foi fantástico. É só que se foi, provavelmente nos veremos daqui seis meses ou um ano, sua vida vai ter seguido e eu vou estar aqui, na mesma busca utópica por alguém que olhe além da fama. Com toda certeza vou me lembrar de cada beijo, entretanto é necessário pensar no outro lado.
                Afinal, eu sou só mais um rapaz latino americano ferrado, que não quer nada e nem ninguém. Me pergunto porque o mundo persegue a fama, ela é tão útil quanto uma unha encravada.

                Vou mesmo parar de beber. 

16 de outubro de 2013

Make it better

                - Eu nem gosto de música eletrônica.
                -Seu cu!
                É claro que exclamaria, eu sempre reclamo.
                -Vai dizer agora, eu também não gosto de exercício físico.
                -É que não gosto mesmo...
                -Então você tá negando pra gente que corre ouvindo Daft Punk?
                -Não! É que Daft Punk é igual correr. Não conta nem como música eletrônica e nem como exercício físico.

                E seguiu abaixando para amarrar os cadarços e pegar a rua rumo Leite de Castro. Não é sempre, mas as vezes fica complicado mentir pra sí mesmo. Até porque, nas próprias discussões há um tom cínico em uma das vozes. 

14 de outubro de 2013

Amores Fetais.

                Não esperava mesmo. Nem levei meu melhor perfume. Na verdade, quando perdi o sorteio fiquei relativamente feliz, afinal, há um universo em São João, e, o cara que ganhou consegue ser mais imaturo que eu, viajar vai ser bom pro caráter dele. Ano passado tinha sido fantástico, estava certo que nada superaria os tempos de pipa, minha paixão portuguesa de uma noite só.
                Mentir pra mim mesmo tem se tornado cada dia mais fácil.
                Eu não quis ver, dormi desconfortavelmente todo o percurso. Ah!... O desanimo pré-paixão é animador. A inocência é uma dádiva. Chegar foi difícil, complicado, algumas horas presos entre ruas com nomes errados e um trânsito infernal.
                A doce chegada, esticar as pernas e sentir o sangue fluir. Estalar os joelhos e alongar os braços. Os pequenos prazeres da vida, também, merecem atenção. Me instalei. Respirei.
                Aí que mora o problema, é quando abaixamos a guarda que vem o golpe inesperado. Nesse caso foi um combo. Os olhos, cabelo, cheiro e até a voz. Quis vê-la me trazer o sol, quis dizer o que eu não sou e o que eu quero ser. Amanheceu alguns dias a mais, em tempos há sempre o mais, menos dessa vez. Não serão dias iguais.
                Neste momento eu me arrependi de ter perdido. Perdido horas que passaria com ela. Talvez nessas horas eu dissesse que dá pra mudar e fazer o longe existir. Se o longe existisse, a esperaria chegar como o sol, para sermos em dois o que nunca serei em um.
                Seria bom mudar o que eu nem sei. Mesmo que pro longe existir eu tenha que ser mais vivo que o vermelho do anoitecer.


Prólogo

         Eu não gosto de você. Gosto de poucas pessoas e gozo em varias, mas isso não me faz gostar de você. Não somos amigos de infância ou irmãos de pais diferentes, não somos nada. Você me acha um bêbado babaca e eu te acho um idiota inútil.
        Nossa relação se resume a isso.
        Você pode ler o que eu escrevo, pode se reconhecer no que eu escrevo e pode até gostar do que escrevo, mas isso nunca vai te fazer melhor.
        Se espera finais felizes e historias bonitinhas vá ler crepúsculo e viva bem com a sua mediocridade.
        O que escrevo pode ser verdade, ou não. Você nunca vai saber.
        Pode suspeitar, mas certeza é algo que nem eu tenho.
        Para as mais belas criaturas da terra eu deixo meus sentimentos, vocês são minha fonte de inspiração.