Sem mas.

Sem mas.

27 de novembro de 2013

Linha reta

                É mais uma que eu deixo ir. É como se houvesse uma estrada e eu insistisse em andar em círculos. Num looping infinito. Negando todos os caminhos que me aparecem. Todas elas são tão mais promissoras que você.
                Eu não quero que isso seja uma carta. Então não será. De agora em diante eu não vou me referir a você com o pronome “você”. Você será alguma outra garota. Mesmo que quando - você - volte a conversar comigo, do nada, eu não consiga me manter com as outras.
                Não desta vez.
                Isto não será uma carta.
                Eu estive procurando o som e a bebida ideal para escrever o que tem se passado aqui, dentro de mim, só que está tão difícil, são tantas coisas, tantas perguntas não formuladas, tantas respostas que não estou preparado para ouvir. Minha mente se acalmou um pouco com Camelo. Engraçado pensar que o disco dele traz o “nós” de cabeça para baixo, como se fosse um “sou” e que eu realmente quis conhece-la, me liguei ao som que ela ouve como se fosse um pedaço de mim, ainda por ser descoberto. Juro que não era fã de The killers.
                Eu tenho me encarado, horas a fio, no espelho e não ando gostando nada do que vejo. Estou em mudança, há meses, desde que ela me deixou, nesta peregrinação em busca do que eu tinha descoberto ao lado dela.
                Por alguns instantes achei que estava conseguindo. Descobri que me dou muito bem com ela bem longe ou muito perto. Esse meio termo está me matando. As dores, de anos atrás, voltaram com tudo. Mal saio de casa. Mal saio de mim. Revivo durante todo o dia, pelo menos quinze vezes, toda nossa história. De volta a estrada, a primeira saída que pego me leva ao ponto de partida, em lugar algum, e a segunda também.
                Eu que sempre pensei não ter nascido para monogamia me vejo querendo apenas uma, de novo. Me encontrei com a outra em frente a rodoviária, em um dos raros momentos que tenho saído de casa. Ela estava linda, como sempre, mesmo que eu não tenha dito. Ela sabe, o mundo não a deixa esquecer. Ao me ver, depois de tentar disfarçar o espanto, disse: Caramba! Por alguns minutos te confundi com estes pedintes.
                É, acho que a aparência de um viciado em crack cai bem em mim.

                Continuo procurando o som, a bebida e mais tarde alguém ao meu lado na cama. Já vai para um ano. No final das contas eu sou, mesmo, esse cara sentimental. 

24 de novembro de 2013

Sendo sincero

                Levando em consideração a santa inquisição, acredito que suas longas pernas seriam consideradas bruxaria. Conseguiam me enrijecer tão fácil. Se não fossem os domingos chuvosos e as outras mulheres, juro que desejaria que não fosse queimada.
                Ela vinha e o inferno a seguia.
                Como uma bruxa foragida das profundezas do limbo. Me olhava como um animal, uma fêmea em seu cio incontrolável, acompanhava a rigidez fálica imóvel. Me via como o fogo. Na verdade, não faço ideia de como ela me via.
                Entrava no meu, pequeno, apartamento e trazia todas as angústias e frustrações de amores mornos, mal havia espaço para nós dois. Senti, diversas vezes, como se tivesse listras em meu peito e ela fosse minha prisão. Não nego que o feitiço das pernas se quebrava fácil, porém, há sempre os seios, as costas, nuca, boca. Se não fossem os sorrisos e o cheiro das novas velhas conhecidas, é certo que até ajudaria a pensar em algo que a protegesse da fogueira.  

                Me punindo seguíamos, os dois, rumo ao calor. Tendo visto que a vaidade é a mãe de todos os pecados, nos queimávamos como marginais. Eu tenho pensado em me livrar deste contrato, mas é tão mais simples quando sua alma pertence ao Diabo e não as mulheres.  

17 de novembro de 2013

Sinestésico

Sinestesia do grego συναισθησία, συν- (syn-) "união" ou "junção" e -αισθησία (-esthesia) "sensação") é a relação de planos sensoriais diferentes: Por exemplo, o gosto com o cheiro, ou a visão com o tato. O termo é usado para descrever uma figura de linguagem e uma série de fenômenos provocados por uma condição neurológica.

Por exemplo: quando sua ex vem conversar sobre aquela série legal, que você nunca mais conseguiu ver, e na sua cabeça volta a cena de vocês dois deitados, dividindo aquele sofá de três lugares, numa terça entediante, esperando a pizza de quatro queijos que aquela página do facebook, a que você excluiu porque trazia recordações, tinha colocado em promoção. Junto com isso vem o cheiro do cabelo, que tinha sido lavado na segunda, é que era outono e estava ficando frio, e o cheiro da pele dela. A memória te traz a sensação de tocar aquele espaço entre os seios. Dá pra lembrar exatamente como era. No ouvido o gemido melódico, quase como uma música, aquele blues antigo, a capela. Na boca o gosto do beijo, do sexo despretensioso que aconteceu bem quietinho pra não chamar atenção de ninguém naquele apartamento vazio. Automaticamente você se lembra do gosto que ela tinha de manhã, antes de escovar os dentes, mas não só o gosto da boca, claro. Aí você sente, nos cabelos, os dedos finos, que ela tem, te fazendo cafuné, foram raros os momentos de carinho vindos dali. No seu campo de visão não há nada além daqueles olhos, um sorriso tímido e o cabelo bagunçado, sua camisa do Ramones e a cama desarrumada, o sol entrando de leve com uma brisa fria pela janela do terceiro andar.

Por fim você fica parado, com um sorriso bobo na boca, deixando vir lembranças que nem imaginava ter. É provável que seja a primeira vez que pensa nas coisas boas.  

13 de novembro de 2013

Você não está só, meu caro.

                Olha, cara, juro que não sou de escrever aos amigos assim. Você é próximo, poderia falar tudo isto diretamente a você, mas não vai ser isso que vou fazer dessa vez.
                “O que não nos mata, nos fortalece”. Besteira! A maior baboseira que repetem de peito inchado. O que não nos mata nunca nos fortaleceu, apenas nos deixa puto, irritado. O ódio cresce naturalmente, sem adubo, no peito dos homens, imagina se canalizado. É como uma erva daninha que se enraíza nas nossas entranhas, envenena nossos órgãos e mata, aos poucos, tudo aquilo que um dia queríamos ser. O pior é que o filho da mãe traz outras merdas junto.
                O ódio nos transforma naquilo que desprezávamos enquanto crianças.
                Se eu ainda bebesse te convidaria para uma cerveja, sentaríamos no chico às duas da tarde de uma sexta pacata, olharíamos as pernas de louça das moças que passam e não podemos tocar, falaríamos asneiras porque isso nos fortalece. Amigos, família, bons momentos. Isso nos faz mais fortes, dá sentido a esse mundo caótico.
                Eu sei que mulheres podem ser cruéis  Acredite em mim, eu sei bem. É difícil discernir o que sentimos sem um certo grau de consciência. A cólera nos cega. É como um maldito efeito dominó, sentimos a base sair e aí cai a saúde, conta bancária, noites de sono, surgem calafrios sempre que lembramos delas com outros. Eu já estive aí.
                Nos punimos. É inevitável. Brigamos, bebemos, fodemos. Passamos dias sem um banho digno, semanas sem uma refeição decente. Tentamos fugir, lutar. Tentamos tudo. Juro que se não cuidar isso pode nos matar.
                Eu estou usando a primeira pessoa do plural para que você perceba que não está só. Você não é o primeiro cara que passa por isso e não será o ultimo, estamos aqui. Amigos servem para isso. Não vou dizer que há outros peixes no mar, isso seria jogar fora toda a importância que ela teve/tem para você. É mesquinho e não são esses sentimentos que busco com estas palavras.
                Ninguém, além de você, pode pegar seus destroços e colocá-los juntos. O quanto antes você perceber isso, mais rápido saíra desse ciclo. Encerrar ciclos é importante.
                Sei que em alguns pedaços, certas coisas, soaram ridículas, mas foda-se. As vezes é necessário abraçar o ridículo.
                Abraços, cola aqui qualquer hora para um jam. Comprei uma gaita nova.  

   

10 de novembro de 2013

Estou bem

                Não tenho bebido e nem fumado. Não ando vendo motivos para isso. Mas que droga de escritor é esse que não bebe e não fuma? Sobre que merdas escreverei então? Que tipo de vida é essa que tenho levado? Falar sobre amor se tornou algo tão banal.
                Em minha defesa, digo que foram poucas as vezes que trepei tanto quanto agora. Pode parecer compensação, de um ponto de vista mais freudiano podem afirmar, inclusive, que é uma maneira de sublimar ou compensar.
                Bom... Eu tenho chamado de viver.
                Liguem para seus médicos favoritos e peçam uma lobotomia. Chequem o meu cérebro. Tenho andado sóbrio há meses, juro. Façam os testes. Digam quando foi a ultima vez que me viram bêbado, jurando amores ou seguindo só.
                Não acho que sou melhor do que todos por isso, nem do que a maioria. Na verdade tenho me sentido mais escória do que antes. É esse frio que não faz parte da primavera, ele vem quebrando meus joelhos sem piedade. Tira tudo que eu quero.
                Me rouba, sem pestanejar, as pernas de louça das moças que passam pela avenida. As pobres pecadoras que se redimem, todos os dias, com seus vestidos leves, os seios convidativos e os sorrisos fáceis.
                Já me disseram: quem te tira o sorriso fácil, arranca o coração fácil.
                Não há mentira maior. Talvez até tenha, mas pensar nisso agora me deprime. Antes a cerveja me alegrava, era motivo de festa, reunião. Comemoração. O uísque seguia como um fiel escudeiro, apoiava aulas mal elaboradas por acadêmicos incompetentes. A vodka sempre foi uma maneira de suportar a medíocridade alheia.
                Estar sóbrio consome muita energia.
                Tenho comido pouco, pensado muito. Pensar nunca é bom. Ignorância é uma virtude, acompanhada da felicidade. Ela pertence aos ignorantes assim como a melancolia pertence aos desafortunados.
                Não há recompensa, a redenção não existe.

                O mundo é um lugar frio e cruel, até mesmo na primavera e olha que, ultimamente, eu tenho passado bastante tempo ao sol.  

3 de novembro de 2013

Rumo a tragédia

                Tenho pensado bastante no inatismo. Irônico. Acreditava veemente que certas coisas não poderiam ser modificadas. Morreria, de fato, até antes dos trinta e o gene determinaria boa parte da minha conduta.
                Por sorte eu vivi.
                Conheci pessoas que me fizeram repensar. Esta garota era uma delas. Cabelos pretos, pele queimada, um jeito bacana. Do tipo de gente que te faz querer entrar em colapso, se não for bem interpretada. Uma pena nos encontrar-mos esporadicamente, apenas, e de maneira tão furtiva. Mal sabe ela o bem que me fez.
                Com ela insisto um contato. Creio que beiro o limiar da chatice  isso se não o ultrapasso constantemente. Não foi sempre assim, de volta a 2010, ela conseguia ser insuportável. Insuportavelmente linda, mas tremendamente irritante.
                Hoje mal vejo a garota que nos apresentou. Essa terceira foi, durante alguns meses, uma boa interação sexual sem compromisso. Esse tipo de relação irritava a musa. Ainda bem que o tempo passa.

                Por sorte vivi. Duvido que, sem ela, eu descobriria um outro jeito de morrer.