Não vou
negar, a nuvem de mosquitos me fez pensar em um mundo cruel. Era para ser uma
mijada simples e rápida. Olhei para o lado, rumo ao lixo, e lá estavam elas.
Brigavam ou brincavam, não domino sobre os hábitos de mosquitos sugadores, só
sei que na minha terra são chamados de muriçoca e tendem a aparecer quando
está quente. Lá está sempre quente.
Até que
ponto se conhece algo?
Saber o
nome não te qualifica como conhecedor, conhecer a fama de algo não te torna um
especialista. Eu poderia ter um dossiê sobre essas malditas e ainda não ter
dado a elas um nome.
Passei
mais do que deveria olhando como voavam, de alguma maneira me lembrou pessoas
de um passado recente. Era uma garota tão doce e um mundo tão cruel. Os cabelos
avermelhados, as bochechas coradas de vergonha. Os diálogos breves.
Tão
doce que me aquecia o peito. É claro que eu continuaria a pensar nela nas
semanas seguintes, esse tipo de inocência me toca. Encontrei velhos amigos ao
voltar para casa. Sempre gostei de pensar que casa é onde o coração está. Sei
que soa brega, parece que tirei de uma música country barata. É só que quando o
coração bate tranquilo acredito que se pode descansar. Exatamente como se faz no lar.
Meu
coração pode ter sido dividido. Não é possível que bata tranquilamente em
tantos lugares assim. Há algo errado. Me emocionaram como em anos não acontecia,
os velhos conhecidos. Aquele tipo de afeto me comove. É como se fossemos
próximos, mesmo não sendo.
Os dias
seguiram seu curso, me trouxeram ao hoje. Até as muriçocas e o lixo. Ah! Ela
era uma garota tão doce. Outras vieram. Sempre haverá outras, bebidas,
conhecidos. Aquele tipo de honestidade e afeto são raros, não dá pra negar. Realmente
me comoveu.
Por fim
balancei como de costume, guardei e fechei a bermuda rasgada. Cocei a barriga,
peguei o celular e assumo, pensei em ligar. Acabei discando o número de outra.
É que são tantas garotas doces em um mundo tão cruel que não dá pra saber de
onde vem o medo de perder.