Sem mas.

Sem mas.

27 de outubro de 2013

Não é sobre amor.

                Não vou negar, a nuvem de mosquitos me fez pensar em um mundo cruel. Era para ser uma mijada simples e rápida. Olhei para o lado, rumo ao lixo, e lá estavam elas. Brigavam ou brincavam, não domino sobre os hábitos de mosquitos sugadores, só sei que na minha terra são chamados de muriçoca e tendem a aparecer quando está quente. Lá está sempre quente.
                Até que ponto se conhece algo?
                Saber o nome não te qualifica como conhecedor, conhecer a fama de algo não te torna um especialista. Eu poderia ter um dossiê sobre essas malditas e ainda não ter dado a elas um nome.
                Passei mais do que deveria olhando como voavam, de alguma maneira me lembrou pessoas de um passado recente. Era uma garota tão doce e um mundo tão cruel. Os cabelos avermelhados, as bochechas coradas de vergonha. Os diálogos breves.
                Tão doce que me aquecia o peito. É claro que eu continuaria a pensar nela nas semanas seguintes, esse tipo de inocência me toca. Encontrei velhos amigos ao voltar para casa. Sempre gostei de pensar que casa é onde o coração está. Sei que soa brega, parece que tirei de uma música country barata. É só que quando o coração bate tranquilo acredito que se pode descansar. Exatamente como se faz no lar.
                Meu coração pode ter sido dividido. Não é possível que bata tranquilamente em tantos lugares assim. Há algo errado. Me emocionaram como em anos não acontecia, os velhos conhecidos. Aquele tipo de afeto me comove. É como se fossemos próximos, mesmo não sendo.
                Os dias seguiram seu curso, me trouxeram ao hoje. Até as muriçocas e o lixo. Ah! Ela era uma garota tão doce. Outras vieram. Sempre haverá outras, bebidas, conhecidos. Aquele tipo de honestidade e afeto são raros, não dá pra negar. Realmente me comoveu.


                Por fim balancei como de costume, guardei e fechei a bermuda rasgada. Cocei a barriga, peguei o celular e assumo, pensei em ligar. Acabei discando o número de outra. É que são tantas garotas doces em um mundo tão cruel que não dá pra saber de onde vem o medo de perder.   

24 de outubro de 2013

ATENÇÃO! Isto não é um poema.

                Primeiro me disseram:
                “Olha, isso é um poema.
                Vê as redondilhas e as rimas?
                Percebe a métrica e o sentido?
                Falam de um vaso chinês com tanta substância.

                Não se preocupe com isto.
                Crônicas e contos se confundem
                Você não precisa saber o quê é qual.
                Tudo bem.
                Mas olhe este poema.
                Veja.
                Sinta este dodecassílabo.
                Absorva o soneto”.

                Eu tenho sua infelicidade.
                Se seu objetivo é estimular
                Pegou o cara errado.
                Antes, era apático a poemas.
                Hoje os repulso tanto quanto poetas.

                Se há algo pior que poemas
                São os poetas.

                Exceto meu vizinho.
                Porém, há sempre a exceção que valida a regra.



                

21 de outubro de 2013

Em total solidão

                Talvez seja o nome ou a data que ela me deixou, se bem que não posso ser egoísta assim. Ela deixou a todos. Achei o poema que me escreveu de aniversário. Estava numa pequena mala, ao lado de um perfume barato e uma calcinha da ex de São Paulo.
                Essa ex gostava de me comparar ao Wando, talvez seja o físico, pode ser, também, por conta das frases bregas e sentimentos idealizados. Ela dizia: Olha... Você é um romântico, um tipo raro hoje em dia. Jovem de alma velha.
                Talvez ela estivesse certa.
                Voltando ao nome... Não posso colocar isso na mesa logo de cara, porque o nome foi a última coisa que lembrei. O Sorriso cativante somados ao poema encontrado, essa semana, e o aniversário de despedida da outra me amoleceram.
                É melhor, mesmo, parar de beber.
                Porém, o cheiro é gostoso e o cabelo bagunçado dá um charme maior pros olhos. E por falar em saudade, será que ela, agora, bebe champanhe no paraíso ou uísque em copo de extrato de tomate no inferno? Espero que a segunda opção.
                Aqui estou, sendo egoísta, de novo.
                Mas ela tem um tipo de inocência tão próprio, daquelas que desperta uma vontade íncrivel de corromper, só que eu tratei bem. Sério. Fui um cara legal, como deveria ter sido com a outra. Levei pra comer e insisti, saí com ela em público, até tentei arriscar uns passos de samba. Jeová sabe que sou péssimo dançarino.
                Tentar se redimir é um saco.
                Não que não tenha valido a pena, cada segundo ao lado dela foi fantástico. É só que se foi, provavelmente nos veremos daqui seis meses ou um ano, sua vida vai ter seguido e eu vou estar aqui, na mesma busca utópica por alguém que olhe além da fama. Com toda certeza vou me lembrar de cada beijo, entretanto é necessário pensar no outro lado.
                Afinal, eu sou só mais um rapaz latino americano ferrado, que não quer nada e nem ninguém. Me pergunto porque o mundo persegue a fama, ela é tão útil quanto uma unha encravada.

                Vou mesmo parar de beber. 

16 de outubro de 2013

Make it better

                - Eu nem gosto de música eletrônica.
                -Seu cu!
                É claro que exclamaria, eu sempre reclamo.
                -Vai dizer agora, eu também não gosto de exercício físico.
                -É que não gosto mesmo...
                -Então você tá negando pra gente que corre ouvindo Daft Punk?
                -Não! É que Daft Punk é igual correr. Não conta nem como música eletrônica e nem como exercício físico.

                E seguiu abaixando para amarrar os cadarços e pegar a rua rumo Leite de Castro. Não é sempre, mas as vezes fica complicado mentir pra sí mesmo. Até porque, nas próprias discussões há um tom cínico em uma das vozes. 

14 de outubro de 2013

Amores Fetais.

                Não esperava mesmo. Nem levei meu melhor perfume. Na verdade, quando perdi o sorteio fiquei relativamente feliz, afinal, há um universo em São João, e, o cara que ganhou consegue ser mais imaturo que eu, viajar vai ser bom pro caráter dele. Ano passado tinha sido fantástico, estava certo que nada superaria os tempos de pipa, minha paixão portuguesa de uma noite só.
                Mentir pra mim mesmo tem se tornado cada dia mais fácil.
                Eu não quis ver, dormi desconfortavelmente todo o percurso. Ah!... O desanimo pré-paixão é animador. A inocência é uma dádiva. Chegar foi difícil, complicado, algumas horas presos entre ruas com nomes errados e um trânsito infernal.
                A doce chegada, esticar as pernas e sentir o sangue fluir. Estalar os joelhos e alongar os braços. Os pequenos prazeres da vida, também, merecem atenção. Me instalei. Respirei.
                Aí que mora o problema, é quando abaixamos a guarda que vem o golpe inesperado. Nesse caso foi um combo. Os olhos, cabelo, cheiro e até a voz. Quis vê-la me trazer o sol, quis dizer o que eu não sou e o que eu quero ser. Amanheceu alguns dias a mais, em tempos há sempre o mais, menos dessa vez. Não serão dias iguais.
                Neste momento eu me arrependi de ter perdido. Perdido horas que passaria com ela. Talvez nessas horas eu dissesse que dá pra mudar e fazer o longe existir. Se o longe existisse, a esperaria chegar como o sol, para sermos em dois o que nunca serei em um.
                Seria bom mudar o que eu nem sei. Mesmo que pro longe existir eu tenha que ser mais vivo que o vermelho do anoitecer.


Prólogo

         Eu não gosto de você. Gosto de poucas pessoas e gozo em varias, mas isso não me faz gostar de você. Não somos amigos de infância ou irmãos de pais diferentes, não somos nada. Você me acha um bêbado babaca e eu te acho um idiota inútil.
        Nossa relação se resume a isso.
        Você pode ler o que eu escrevo, pode se reconhecer no que eu escrevo e pode até gostar do que escrevo, mas isso nunca vai te fazer melhor.
        Se espera finais felizes e historias bonitinhas vá ler crepúsculo e viva bem com a sua mediocridade.
        O que escrevo pode ser verdade, ou não. Você nunca vai saber.
        Pode suspeitar, mas certeza é algo que nem eu tenho.
        Para as mais belas criaturas da terra eu deixo meus sentimentos, vocês são minha fonte de inspiração.