Nós
somos assombrados pelas decisões que tomamos. Isso é fato consumado. Mesmo que
seja de forma inconsciente, ou talvez nem tanto. É que, eventualmente, em uma
madrugada de sábado, depois de momentos marcantes e conversas profundas, elas
voltam.
Nos
pegam pelo calcanhar enquanto nos ajeitamos na cama e aí fodeu. Viramos a noite
enrolado nos lençóis indagando todos os se’s e suas consequências.
Pois
bem. Sei que tenho pensado bastante no próximo, em alguns assuntos, porém, não ando fazendo tanta questão assim. Ela, por exemplo, já abri mão e coloquei
o que sentia em segundo plano tantas vezes, para que ela tivesse experiências
com outras pessoas. É só que quanto mais velho fico, menos chances tenho. Da
ultima para essa, foram três anos. Mil e noventa e cinco dias, dezessete horas
e quarenta minutos de tortura.
Olha,
não me orgulho do que digo, é como se tudo que tenho lido sobre as doutrinas
espirituais fosse jogado pelo ralo. E que se dane o outro, entende? Não vejo
êxtase no sofrimento. Nunca consegui comprar a máxima: O que não nos mata,
fortalece.
O que
não nos mata, nos deixa putos.
Os dias
tem andado cada vez mais ensolarados, a minha casa cada hora mais aconchegante
e a minha mente em total harmonia com as minhas vontades. Ela ainda continua
sendo meu caos e eu vejo poesia nisso.
Sei que
já disse, no passado, não ser fã de poesia e poetas. Pois então, conheci
algumas coisas do Bukowski, achei um livro do Neruda na promoção e juro que
encontrei mais uns dois poemas que me agradaram na obra do Drummond.
O maior
conflito que acontecia em mim, é porque a tratava como incerteza.
Tenho visto, ultimamente, que talvez ela seja minha única certeza e já passou da
hora de ser tratada como tal.
As
vezes queremos encontrar uma dessas pessoas de cinema, como um amor
marcante. Porém, sequer prestamos atenção nos pequenos detalhes. Os filmes nos
acostumaram mal. Eles não mostram a história completa.
Quando
você finalmente percebe aquele olhar assustado, num domingo nublado, te
observando com uma especie de desprezo pela arrogância que seus atos emanam,
por mais que fosse apenas um dia comum de ressaca - Já experimentou ter
compromissos e uma ressaca de vodca? Não qualquer vodca, tem que ser uma dessas de garrafa de plástico e nome de mulher russa. Tipo
Natasha ou Dominika. Vai por mim, o dia não se torna comum - na primeira oportunidade, e na
décima quinta também, você vai abaixar a cabeça e tentar tirar um cochilo, ou
se matar.
Mas ela
te olhou, você percebeu isso.
Claro
que ela é linda, se você a achou bonitinha enquanto estava de ressaca é porque
essa mulher é maravilhosa. Ela tem um adicional, tipo jalapeño no whopper furioso. É alguma coisa que vai te fazer pensar nela por meses. Chefia,
essa mulher já te colocou de quatro e você não percebeu.
Taí seu
amor de cinema.
Ache
alguém assim, que te prendeu em detalhes tão sutis que te fizeram esquecer aquele namoro ferrado que vinha se arrastando, porque olha, quando se reencontrarem as coisas
serão estranhas. Você acha que a conhece há anos, mesmo sem saber a ordem certa
do sobrenome dela. Ela, toda contida, mal vai te encostar, mas tudo bem.
Nessa hora, os
carinhos de outra não servem.
Alguns
dias depois, talvez te faça um cafuné. Aí você vai ter certeza sobre os carinhos das outras.
Ela vai
subir em árvores, andar descalça na casa dos amigos e se for vegetariana,
comerá bolacha de água e sal com as coisas mais bizarras que existirem na
geladeira. Nessas horas é melhor você ficar calado. Vai por mim, quando
aconteceu comigo eu disse tanta besteira que a afastei por duas semanas.
O foda
de encontros magnéticos é que não dá para se manter longe por tanto tempo.
Parece que o mundo sai do eixo.
Pode
ser que demore para que fiquem juntos a primeira vez, tudo bem por mim, a
espera me fez dar valor nos momentos que viriam. Apesar dela ter esse
dom, incrível, de transformar tudo em lembrança. Acho que é porque ela sempre
me deixa, mesmo que acabe voltando depois.
Sabe, é
quando acontece o primeiro beijo que você percebe porque sempre deu errado com
as outras. É nessa hora que você a vê deitada, se perguntando se fez a coisa
certa, com todas as minhocas em sua cabeça gritando frases opostas, o corpo tremendo e te puxando
para mais beijos, mais calor. É nesse momento que você tem aquilo dos livros que
queria a vida toda, até porque, em determinado momento, todos percebemos que o cinema falha em contar histórias.
Ache
alguém assim, que não se importe de passar horas deitada no capô do carro com
você, olhando estrelas em algum lugar muito afastado da cidade. Alguém como
ela, que tope coisas diferentes, só porque nenhum dos dois fizeram ainda, que tire sarro da sua cara e te mande comprar camisinha às três da manhã.
Encontre
essa pessoa que vai te fazer derreter durante uma rapidinha na parte da tarde, quando acabar vai te dar um selinho e cochilar nos seus braços. Porque nesse momento, colega, você vai ter milhões de coisas para fazer, mas vai deixar todas elas de lado
para acarinhar essa mulher. É a sensação de ter um mundo em suas mãos.
Por mais que ela te deixe dezenas de vezes depois e arrume pessoas alheias para ocupar
o lugar que é seu, e, eventualmente os abandone para passar uma semana, que
seja, ao seu lado. Encontre alguém que te ganhe pelos detalhes e a atenção,
mesmo que ela não te beije em público com uma frequência absurda, você não vai querer dividi-la e vai chegar o momento em que a presunção te fará achar que ninguém mais vai conseguir fazê-la sentir o que você sabe que é capaz de fazer. Descubra essa pessoa que vai te dar coragem para ser e fazer qualquer coisa por ela e aí vai ter uma história melhor que a
de qualquer filme. Você vai ter uma história digna dos melhores livros, vivida somente por duas pessoas, até então.