Chego
em casa, abro a porta, jogo as chaves na penteadeira do quarto, passam raspando
pela porta, fazem tabela nos livros amontoados e caem na cestinha. Ouço barulho
do metal batendo nas lentes dos óculos escuros. Tudo bem, é falsificado. Coço a
barba, olho a geladeira. Percebo a pilha de vasilhas na pia, não vão se
limpar sozinhas. Sinto o calor entrando pela janela.
Ainda
na cozinha, tiro os sapatos, fecho a porta, coço a cabeça. Uísque ou água?
Beijo a boca da moringa inox, era presente de casamento dos meus pais. Perco o
folego, um pouco escapa pelos cantos da boca, frio, combina com a brisa que
foge da geladeira. Uma mancha ao lado das gotas. Tenho que lavar roupa.
Viro as
costas, entro no quarto, ainda não tive coragem de arrumar a cama. Abro a porta
da varanda, tiro as calças, jogo a camisa em cima do sofá. Vejo o controle da
Tv. E agora faço o quê?
No
banheiro, lavo o rosto, me encaro no espelho, molho a nuca.
Volto até a varanda, deito na rede.
Céu
azul.
Cochilo.
Sinto
cheiro.
Sinto
cheiro dela.
Acordo, céu vermelho, as luzes da rua começam acender.
Escurece, levanto, faço um café, me apoio na pia, bebo meia caneca. Penso nela, saudade aperta.
Volto
pro buteco.