Se você
quer seguir com isso, de ganhar prêmios, vá em frente. Sério. Mas a noite,
quando deitar em sua cama, ao lado da sua esposa troféu, encarando seus
certificados e medalhas, tenta usá-los pra preencher seu vazio.
Parece
fácil fazer o certo por linhas tortas. Brincar de Deus, até ser tratado como
tal. Cure o câncer para satisfazer seu próprio ego. Seja amado pela obra,
desenvolvida exclusivamente para isso. A competição é o natural de criaturas selvagens,
siga em frente e boa sorte com a sua existência biológica.
Vai!
Tente
construir pontes de papel, veja se são sólidas. Eu tenho uma facilidade imensa
em aumentar abismos. Num piscar de olhos, precipícios enormes se formam ao meu
redor. Basta observar a extensa lista de velhos desconhecidos, ela abrange
parentes de primeiro grau até amigos de infância, nem professores são perdoados.
Laços
destruídos.
Hei...
Este sou eu, não é mesmo? Só mais um fracassado. Com você é diferente. O Nobel
vai mudar sua vida. Você vai ser o herói. As pessoas vão te amar por isso.
Sabe... Isso não funcionou nem mesmo com Deus.
Ah!... Mas é só Deus... Com você vai ser diferente.
Para
quê preservar laços, agir como humano, se você pode competir?
Ninguém
liga para quantos porteiros você maltratou ou quantos corações quebrou. Olha
só, achou a cura para epilepsia. Um santo. Você se lembra, porém, daquela
garçonete, naquela noite fria, do bar que estava fechando, e você, com seus
amigos da mesma laia, chegaram bêbados, dizendo obscenidades a ponto de fazerem
a garota, que só estava trabalhando, chorar? Pois então...
Enquanto
você segue competindo, eu vou por outro caminho.
Estou
aqui tentando ser humano, para variar. Essa coisas de ser uma besta, manter uma
existência biológica é muito neandertal para o meu gosto.
Mas vai
lá... Se preocupe com o Nobel e seus outros prêmios, enquanto isso eu vou juntar os cacos das pessoas que eu ajudei a destruir, é que eu tenho tentado não fazer um
estrago maior.